Pistas para a promoção humana inspiradas em Jesus Cristo

20/04/2011 06:06

No Evangelho de Lucas, Capítulo 5, dos versículos 27 a 32, Jesus se encontrou com Levi, um cobrador de impostos sentado na coletoria e disse a ele: “Segue-me”. Levi deixou tudo, levantou-se e seguiu Jesus. Levi preparou um banquete para Jesus. Estava presente no banquete um grande número de pessoas e cobradores de impostos. Os fariseus e os mestres da Lei murmuraram e questionaram os discípulos o motivo de comerem e beberem com pecadores. Jesus respondeu a eles: “Os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão”.
Esta é a acusação a Jesus dos que se julgam mais puros: “Por que vós comeis e bebeis com os cobradores de impostos e com os pecadores?”.
O Senhor chamou para a sua companhia, como apóstolo, Mateus – a quem os Evangelistas Marcos e Lucas chamam de Levi -, publicano de profissão, isto é, cobrador de impostos para os romanos. Eles eram “ladrões oficiais” e, por isso, deviam ser evitados social e religiosamente, na opinião dos mestres da ortodoxia judaica.
Na pedagogia da promoção humana, podemos nos perguntar: Por que essa preferência de Jesus pelos marginalizados da salvação? “Os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão”. Eis aqui a explicação da conduta de Cristo e o sentido de todo o Seu mistério da Encarnação, a razão de toda a Sua vida e do Seu Evangelho, a finalidade da Sua Morte e Ressurreição.
Jesus provoca intencionalmente o escândalo dos que se julgam puros, tomando partido pelos pecadores para mostrar a misericórdia de Deus, que os acolhe e perdoa como faz o pai do filho pródigo. Mais ainda: avisou aos chefes religiosos do povo judeu de que publicanos e prostitutas lhes antecederiam no caminho do Reino de Deus.
De fato, foram os pecadores e ignorantes, os pequenos e os Pobres, os doentes e marginalizados que captaram a mensagem libertadora de Cristo melhor que os justos e os sábios, os grandes e os entendidos.
Ninguém, pois, deve escandalizar-se; porque a misericórdia de Deus não é cumplicidade e permissividade, mas é a procura do ser humano para promovê-lo e redimi-lo.
Mateus (Levi) era um marginalizado da salvação e um discriminado social, como o são hoje tantos homens e mulheres.
Cristo dignifica-o e restabelece-o na sua condição de pessoa e de filho de Deus com o voto de confiança que supôs o convite do “Segue-me”.
Para o Senhor não só a pureza religiosa autêntica é suficiente, mas sim, a conversão ao amor, à piedade e à misericórdia. Por isso que admirável humanidade de Jesus é capaz de provocar a superação de todas as divisões que impedem as relações fraternas entre os seres humanos. Ele nos ensina a ver a realidade dos Pobres e, mais ainda, o rosto concreto de cada um deles, tal como se apresentam, e não ter um olhar limitado, superficial, tendencioso e generalizante como foi o olhar dos fariseus e mestres da lei, que foram incapazes de chegar às raízes dos dramas individuais e coletivos dos “impuros” no tempo de Jesus.
O Mestre também nos ensina a comover-nos, deixando que o sofrimento dos marginalizados toque o nosso coração, onde realmente possamos sentir a dor de todos aqueles que sofrem com a exclusão social. E finalmente Jesus nos pede um olhar atento, que vai às raízes mais profundas das situações de pobreza, fazendo com que o nosso coração se debruce sobre a miséria do outro, impelindo-nos sempre para uma ação, entendida também como a mudança de estruturas injustas que assolam os mais Pobres em nossa realidade.
A promoção humana faz do ser humano, que não tem voz e vez, o protagonista de sua própria história. Por isso, nunca deixemos, enquanto Família Vicentina, de dar abertura também para a força profética desta frase de nosso querido Ozanam, que dizia simplesmente: “Vamos aos Pobres”.

Padre Alexandre Nahas Franco- assessor espiritual do CNB, publicado no Boletim Brasileiro.

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